É ouvindo o álbum Bongo Rock, da Incredible Bongo Band, 1973, que me açoito nesta escolha.
Aqui a gente não tem estilo preferido, né? Na verdade a gente tem, mas eu vou colocar aquilo -OBVIAMENTE- que eu gosto, né? E tem um pouco de Dvorák, Ednardo, Stormy Six, Copacabana Club, Ben Folds Five... Não sei o que vocês querem ler, mas nem devia me importar com isso, na verdade. E, na franca e sincera verdade, eu não me importo.
Setenta e quatro, uma mina chamada Elis Regina e um tio chamado Tom Jobim gravam, junto com um time de músicos de primeira, um álbum que é clássico na Música Popular Brasileira (aquela que a gente acha que é erudita, mesmo com letras terríveis como a de "Triste"). O trabalho é ótimo, nós temos uma Elis quase-madura, com um Jobim profissional (que até o resto da vida viveu com os resíduos deixados pela Bossa-Nova, movimento brasileiro gerado pela dialética da música estadunidense e afro-brasileira da primeira metade do século passado, elitizado e vanguardista).
Todas as faixas têm o mágico dedo jobiniano, nos arranjos, nas composições e interpretações. Aparecem aqueles músicos fodões que os grãs-emepebes conheceram nos setentas; o César Camargo Mariano (pai da Maria Rita e do Pedro), por exemplo, é um nome citável. Até o Oscar Castro Neves dá o ar da graça em algumas faixas.
A atenção dada a esse álbum pela crítica é simplesmente EXAGERADA. Sim, como tudo que é adotado pela crítica (e consequentemente pela mídia) como mercadoria torna-se EXAGERADAMENTE BOM!
Queria chamar atenção a alguns tópicos;
- Li certa vez, de uma fonte não confiável, que a Elis considerava Elis & Tom como o trabalho mais representativo de sua carreira. Certamente, ela disse isso em '74, ou era uma tapada. A melhor fase da vida de Elis é após '76, quando atinge o ápice de sua técnica, até morrer de overdose, de conspiração, de depressão, de LSD, ou sei lá o quê, em 1982;
- Prestar atenção no álbum que o Tom Jobim gravou com o tio Frank Sinatra no final dos sessentas. A bossa-nova era, de fato, uma mercadoria a ser consumida pelo tio Sam, e pela burguesia brasileira;
- Pular a primeira faixa. Quem não 'tá careca de ouvir Águas De Março?;
- A terceira faixa é uma das prediletas das emepebes atuais, que discotecam a nossa bossa para agitar o povo badalado que vive na Europa;
- Existem algumas canções meio performáticas, mais formais, eruditas, d'uma certa rigidez, tipo Modinha, O Que Tinha De Ser, Por Toda A Minha Vida e Soneto De Separação. São sem dúvida faixas belíssimas, mas não são as mais legais;
- Prestem atenção na letra maldita de Triste;
- A interpretação de Retrato Em Branco E Preto é notável;
- No final de Brigas, Nunca Mais, rola uma música incidental, recorrência, sei lá como chama a figura, -só sei que o tecladinho lembra Garota de Ipanema (a música que o Vinícius fez pr'aquela mina, que [só] ele achava muito gostosa);
- Chovendo Na Roseira é uma faixa criativa, de arranjo criativo, e que explora a criatividade do ouvinte;
- Inútil Paisagem é o Rio de Janeiro no final dos cinquentas e início dos sessentas.
Angústias? Espero bombons, fuzis & cravos.
Elis & Tom é de 1974. Seus créditos são atribuídos a Elis Regina e Tom Jobim. Aqui (olhando no bolachão) quem lançou foi a Polygram, da Philips.
As músicas são, na ordem, Águas De Março, Pois É, Só Tinha De Ser Com Você, Modinha, Triste, Corcovado, O Que Tinha De Ser, Retrato Em Branco E Preto, Brigas, Nunca Mais, Por Toda A Minha Vida, Fotografia, Soneto De Separação, Chovendo Na Roseira e Inútil Paisagem.
As autorias se dividem entre Tom Jobim, com Chico, com Aloysio, ou com Vinícius.
Um comentário:
Quem ja teve uma "paixonite" platonica e foi pro bar beber, sabe que "Triste" é entoado quase como um mantra.
De fato, album clássico, ponto de referencia pra MPB, nós morreremos mas o album ficará na eternidade.
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